Durante este fim-de-semana, os quatro municípios da Bacia do Arade voltaram a ser motivo de reflexão e inspiração para novas ideias durante as terceiras Jornadas do Arade, um espaço de debate promovido pela Associação Teia D’Impulsos. Novamente, o objectivo desta iniciativa foi convidar a um diagnóstico dos principais desafios com que os concelhos de Portimão, Lagoa, Silves e Monchique se deparam no presente e perspectivar soluções para um futuro mais sustentável e baseado numa visão de conjunto para esta sub-região do Algarve.
Foi com este intuito que as Jornadas arrancaram com a dinamização de quatro grupos de trabalho constituídos por alunos do curso profissional de Turismo Ambiental e Rural do IEFP, da Escola Secundária Poeta António Aleixo de Portimão e da Escola EB 2,3 de Monchique. Durante a manhã de sexta-feira, a troca de ideias em torno de quatro eixos temáticos (melhor educação e formação; valorizar e promover o património humano e natural; mais emprego e desenvolvimento económico; e promoção do desporto e atividade física) revelou-se profícua e as conclusões foram apresentadas no sábado, dando início aos trabalhos do segundo dia das Jornadas.
No âmbito de Portimão – Cidade Europeia do Desporto, as Jornadas arrancaram e terminaram com a prática desportiva como protagonista. Na tarde de sexta-feira, a primeira mesa-redonda debateu a “Promoção da prática desportiva a nível local – Da formação ao alto rendimento”, com as intervenções da nutricionista Joana Cruz, que apresentou um estudo desenvolvido junto da população estudantil sobre os hábitos alimentares e a prática desportiva; de Fábio Lourenço, em representação do município de Odivelas, que revelou como este concelho se tem vindo a tornar um exemplo de boas práticas na promoção da actividade desportiva junto dos seus cidadãos, o que se traduziu na candidatura a Cidade Europeia do Desporto 2020; de Carlos Afonso Pereira, que expôs um outro caso de sucesso, o do Complexo de Alto Rendimento de Vila Real de Santo António, o qual já acolhe um número significativo de atletas de alta competição nacionais e internacionais atraídos por condições climatéricas e naturais únicas da região e pela qualidade das infraestruturas; e de Cândida Pereira, que evidenciou a actividade promovida pela Associação Teia d’Impulsos no âmbito do desporto adaptado, em particular através dos projectos Vela Solidária e DAFA – Desporto e Actividade Física Acessível.
Já ao final da tarde de sábado, os trabalhos das Jornadas do Arade encerraram com a intervenção da presidente da Câmara Municipal de Portimão sobre as acções desenvolvidas e programadas no âmbito da Cidade Europeia do Desporto 2019. Isilda Gomes focou como esta é uma oportunidade não só para a promoção da prática desportiva e dos hábitos de vida saudável junto da comunidade, como também para a dinamização da economia da região, sobretudo do sector turístico.
Durante esta edição das Jornadas, também se ficou a saber um pouco mais sobre como os fundos europeus têm sido aplicados na região. António Ramos, secretário técnico do PO Algarve 21, apresentou um balanço intermédio num momento em que começam a ser apurados os resultados da primeira fase de aplicação do programa CRESC Algarve 2020 e levantou um pouco o véu sobre quais serão as áreas-chave do próximo programa operacional, nomeadamente a inovação e o estímulo às exportações.
Como já é tradição nas Jornadas do Arade, os temas quentes da actualidade tiveram espaço para uma discussão aberta a todos. A aplicação da taxa turística no Algarve foi questionada por Elidério Viegas, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), que se revelou céptico em relação aos benefícios e à legalidade desta medida aprovada pela AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve. A abrangência da aplicação da taxa, considerando a alta percentagem de dormidas não registadas oficialmente, a eventual penalização do sector hoteleiro e a forma como as receitas serão distribuídas constituem alguns dos pontos que o presidente da AHETA problematizou. O futuro do Serviço Nacional de Saúde no Algarve serviu de mote para uma sessão de controvérsia que opôs a visão da ARS Algarve, na voz do presidente do Conselho Directivo, Paulo Morgado, à perspectiva dos profissionais da saúde, representada por Ulisses Brito, o presidente do Conselho Regional da Sub-região de Faro da Ordem dos Médicos. A necessidade da construção de um Hospital Central do Algarve, que responda às necessidades da região (aquela que, em todo o país, se encontra geograficamente mais afastada de um hospital central) e aos problemas de sobrelotação com que o Hospital de Faro actualmente se depara, foi um ponto de concordância de ambos os prelectores. Outro ponto polémico tocado nesta edição das Jornadas do Arade residiu na problemática da gestão florestal. “O que mudou ou vai mudar após o incêndio de Agosto de 2018?” foi a questão colocada a Rui André, presidente da Câmara Municipal de Monchique, e ao Eng. Assis Marques, da Associação de Produtores Florestais do Barlavento Algarvio. A prevenção e o reordenamento florestal reuniram consenso enquanto medidas que podem ajudar a prevenir o que aconteceu no ano passado ou, pelo menos, a minorar as suas consequências. Rui André frisou que não se pode esquecer a sustentabilidade da população e a sua relação com a serra e os seus produtos. Porém, Assis Marques alertou para o facto do risco de incêndio, em crescimento devido às alterações climatéricas, estar a afastar os investidores da floresta, o que contribui para o degradar do ordenamento do território. Portanto, o equilíbrio entre a exploração humana e a preservação da natureza revelam-se determinantes na prevenção dos incêndios. Mas, como foi evidente na discussão, ainda há muito caminho para trilhar.
Uma outra temática que regressou à mesa nesta edição das Jornadas foi o património local. A forma como este tem vindo a ser promovido e dinamizado nos concelhos da Bacia do Arade serviu de mote a uma das mesas-redondas do programa, presidida por Adriana Nogueira, Directora Regional da Cultura do Algarve. Ana Patrícia Ramos e António Pereira expuseram algumas das actividades que o Museu de Portimão tem vindo a desenvolver junto da comunidade para manter viva esta memória como parte constituinte da identidade local. Ismael Medeiros, técnico superior da Câmara Municipal de Lagoa, revelou alguns dos projectos futuros do município no âmbito patrimonial, com particular ênfase para a constituição de uma há muito aguardada unidade museológica em Lagoa. O arqueólogo Cristóvão Fonseca deu a conhecer alguns dos segredos submersos no estuário do Arade que têm sido explorados em projectos de arqueologia subaquática dinamizados pelo CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa em parceria com o Museu Municipal de Portimão. Ficou também o alerta para o conflito que por vezes impera entre a preservação patrimonial e os interesses económicos, neste caso específico, os riscos que a dragagens para a execução do projecto de aprofundamento e alargamento do canal do Arade podem constituir para o património subaquático.
Os projectos intermunicipais que dinamizam a cultura da região ocuparam também um lugar de destaque. Nuno Vieira apresentou a Rota do Petisco, um projecto dinamizado pela Associação Teia D’Impulsos, demonstrou o processo de evolução desta iniciativa que, este ano, irá já para a sua nona edição e cuja imagem oficial foi revelada em primeira mão. Anabela Afonso, comissária do 365 Algarve, apresentou os números e iniciativas que deram corpo às três edições deste programa de apoio que apoia iniciativas culturais, abarcando todos os 16 concelhos da região e apostando na diversificação da oferta turística e na criação de um produto cultural atractivo para turistas e residentes. Artur Gregório, da associação In Loco, expôs as linhas de acção assumidas para a divulgação da dieta mediterrânica como factor de dinamização cultural e económica, de preservação da identidade das comunidades, mas também de promoção de hábitos de vida saudáveis. Iniciativas como o MEDFest, a Rota da Dieta Mediterrânea, ou o projecto Prato Certo, focado na educação alimentar, têm reunido sinergias que ultrapassam a região e mesmo o país, em diálogo com outras populações mediterrâneas num trabalho em rede que abrange o sul da Europa e o Norte de África.
Além do programa científico e de debate, a terceira edição das Jornadas do Arade também convidaram à redescoberta das formas de lazer mais tradicionais. Durante a manhã de domingo, realizaram-se as I Olimpíadas do Arade de Jogos Tradicionais. Todos os que passaram junto ao Museu de Portimão foram convidados a participar e a tentar a sua habilidade e sorte. O resultado foi uma manhã diferente e muito divertida, onde diferentes gerações se cruzaram na partilha de memórias e saberes.
As Jornadas do Arade voltaram assim proporcionar um único de espaço de debate e troca de ideias à população da Bacia do Arade. Para mais informações, consulte o nosso website www.jornadasdoarade.pt.