Na passada sexta-feira foi dia de Teia D’Ideias acerca da “Imigração – Desafios e Benefícios da Multiculturalidade“. Uma conversa bastante rica sobre a melhor forma de integrar os imigrantes, pelo que fazemos questão de partilhar agora com todos vós os contributos tão especiais dos nossos convidados. Uma verdadeira lição.
Patricia Pires Tavira Integra |
Desde o ano 2000 que a Fundação Irene Rolo (FIR), situada em Tavira e focada na diversidade funcional, criou uma unidade de Novos Projetos, que lhe possibilita trabalhar com diferentes populações, nomeadamente, pessoas carenciadas e imigrantes.
Já a partir de 2016 que o concelho de Tavira começou a registar um grande fluxo migratório face a um “boom” na agricultura, sobretudo, na área dos frutos vermelhos que requer muita mão de obra. Os imigrantes acabam por ser, assim, “a alavanca da nossa economia“, respondendo a esta falta premente de mão de obra em diferentes áreas do nosso país.
Foi então em setembro do ano passado que nasceu o projeto Tavira Integra+, em parceria com o Município, pois não existia qualquer resposta para a comunidade imigrante. Ouvimos Patrícia Pires, coordenadora deste projeto.
Respostas criadas
– Entre 2021 e 2023, a FIR ofereceu formação de português a 434 imigrantes e Patrícia assegura: “A procura é imensa, nós não temos capacidade para mais“.
– Criação do Guia de Serviços de Tavira traduzido em 7 línguas com informação sobre os serviços públicos (processo de legalização e inscrição dos filhos na escola) e a comunidade tavirense. Segundo a técnica, “existe muito pouca informação traduzida“.
– Sensibilização e formação destinada aos próprios serviços públicos para os “aproximar” da comunidade imigrante e das suas dificuldades;
– Sensibilização junto dos empresários que se revelam “muito recetivos” a estas temáticas, como por exemplo o tráfico humano e condições dignas de trabalho.
– Atividades culturais, como a comemoração de efemérides portuguesas e de outras nacionalidades.
– Atividades desportivas com “muito sucesso” na integração dos imigrantes na comunidade.
– Partilha de vídeo com a história de Tavira e de uma curta metragem protagonizada por uma imigrante nepalesa que conta a sua história de vida e que é hoje presidente de uma associação de migrantes criada através do Tavira Integra+.
Em 2023, o Município de Tavira apresentou um Plano Municipal para a Integração de Migrantes tendo para isso ouvido muitos deles.
Ludmila Moghilevscaia Centro de Apoio à População de Leste e Amigos |
Ludmila é, no fundo, uma imigrante que acolhe outros imigrantes na cidade de Portimão. Chegou a Portugal em 1999 quando as dificuldades económicas lhe trocaram as voltas no seu país. Em 2004 foi uma das fundadoras do Centro de Apoio à População de Leste e Amigos (C.A.P.E.L.A.) e explica a parte dos amigos: “Trabalhamos com todas as nacionalidades, independentemente da raça, cor ou religião“.
Desde 2008 que assume a presidência do Grupo e também técnica no seu Gabinete de Apoio de Informação e Acolhimento. Ludmila atenta que existem muitos gabinetes destes por todo o país mas que abordagem do C.A.P.E.L.A é diferente. “É feita uma triagem dos problemas e dificuldades que os imigrantes enfrentam e depois fazemos o acompanhamento da pessoa até à devida resolução“. Em apenas 1 ano, a C.A.P.E.L.A é capaz de dar resposta a cerca de 6.000 atendimentos.
20% da população em Portimão é imigrante e têm surgido muitos problemas na vida destas pessoas. Ludmila aponta, sobretudo, a questão do dia a dia e dos serviços públicos se desenrolarem no digital. As marcações desses serviços, queixas etc. são todas feitas via email ou através de certas plataformas e “a maior parte dos imigrantes não têm internet ou sequer conhecimentos informáticos“. Além disso, a burocracia é imensa pelo que a C.A.P.E.L.A criou uma equipa de mediadores, voluntários que acompanham o imigrante a todos estes serviços.
Durante seis meses o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) não funcionou devidamente e, nesse período, muitos imigrantes ficaram sem título de residência válido, sem emprego, plano de saúde ou qualquer ação social.
A nova lei que facilita a entrada e permanência de imigrantes oriundos dos PALOP obriga a encontrar emprego e a obter título de residência em apenas quatro meses. Os imigrantes não tem qualquer rede social de apoio, não conseguem emprego e terminam em situação de sem abrigo.
Não revelámos a nacionalidade da Ludmila mais cedo pois aprendemos algo com ela: aos imigrantes que recebe pergunta primeiro qual o problema em que os pode ajudar. Só depois se “preocupa” em saber o seu país de origem. A Ludmila é moldava.
Ronaldo dos Santos “Cada imigrante tem a sua história e a oportunidade de a reescrever” |
Ronaldo é um imigrante brasileiro a residir em Portimão e voluntário da Associação Teia D’Impulsos. Desde o primeiro momento que procurou “envolver-se socialmente na comunidade onde estava inserido” e no Campeonato Mundial de Vela Adaptada, organizado pelo projeto Vela Solidária da TDI, aprendeu uma “lição multicultural muito grande“.
“Tive muita sorte ao chegar aqui e fui extremamente bem acolhido“, defende, mas sabe que existem casos bem diferentes. “Alguns imigrantes não conseguem reescrever a história com que sonharam” até porque encontram muitos desafios pela frente, entre os quais um “escudo” chamado burocracia.
“A integração do imigrante depende definitivamente das políticas locais” foi o que Ronaldo aprendeu, pois por mais medidas que o Governo nacional tome quanto à imigração, nada terá um efeito positivo tão alargado quando “o que eu posso fazer pelo meu vizinho e o que ele pode fazer por mim quando percebe que eu sou imigrante“.
Ronaldo é apologista de que o imigrante deve ter em mente que está a chegar a um novo país para “fazer parte de uma nova cultura“, pelo que deve mostrar interesse em conhecer a história e costumes do país que o recebe e, claro, partilhar os seus
Com a quantidade e à velocidade que os imigrantes estão a chegar ao nosso país, e à nossa cidade, é fundamental ouvi-los a respeito do futuro do lar a que chamamos Portimão.