Na passada quarta-feira, dia 26 de Março, a Teia D’Impulsos – Associação Social, Cultural e Desportiva (TDI), em parceria com a Câmara Municipal de Portimão e a Rádio Costa D’Oiro, promoveu o quinto episódio da terceira série do ciclo de debates Teia D’Ideias. Nesta sessão, o debate foi norteado pelo tema: “Família – A célula social está a ser devidamente apoiada?”.
Os desafios, as oportunidades e os problemas com que as famílias actuais se deparam foram analisados de perto por um painel de convidados constituído por: Paula Braga (Grupo de Apoio à Família do Centro Hospitalar do Algarve), Alexandra Alexandre (Delegação Regional de Faro da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas), Maria Covas (Centro de Investigação sobre o Espaço e as Organizações da Universidade do Algarve), Ana Vicente (Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Portimão) e Maria José Antunes (Núcleo Hospitalar de Apoio a Crianças e Jovens em Risco). A Associação Teia D’Impulsos esteve representada por Nuno Vieira, enquanto que o debate foi moderado, como é habitual, por Nuno Silva.
A questão da natalidade abriu a discussão. A diminuição do número de filhos por casal, o progressivo adiamento da constituição de família, a emigração de indivíduos em idade activa são alguns dos factores que determinam o crescente envelhecimento da população europeia. Portugal não é uma excepção, sobretudo num momento de crise económica. Paula Braga sublinhou a insuficiência de políticas sociais em Portugal que incentivem a natalidade, algo que tem reflexo directo no progressivo envelhecimento da sociedade. Alexandra Alexandre recordou que, apesar da vontade de muitos casais em terem mais filhos, as condições económicas nem sempre o permitem e o Estado não tem sabido responder a este problema de uma forma eficiente, através de, por exemplo, incentivos fiscais. Mas esta não é uma responsabilidade exclusiva do Estado. Maria Covas sublinhou a necessidade da sociedade civil e, em particular, da Universidade também se empenhar em prol do apoio às famílias, criando projectos e desenvolvendo sinergias entre a academia e as associações e instituições, de modo a se conseguir suprimir as lacunas deixadas pelo Estado, cuja capacidade de apoio às famílias tem-se revelado limitada e insuficiente.
A família, enquanto alicerce da sociedade, escola de valores e elemento basilar da educação dos indivíduos, é uma garantia de segurança e harmonia social. Maria José Antunes e Ana Vicente sublinharam como a uma criança ou um jovem em risco corresponde, frenquentemente, uma família desestruturada. Suportando-se na sua experiência na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Portimão, Ana Vicente notou como, muitas vezes, os pais não têm noção da situação de risco dos filhos senão numa fase muito tardia, quando o problema já resvalou para uma situação de delinquência. No Núcleo Hospitalar de Apoio a Crianças e Jovens em Risco é prestado um apoio que, numa situação ideal, deveria ser responsabilidade da própria família. Porém, como referiu Maria José Antunes, a criança ou jovem que está numa situação de risco seguramente nasceu no seio de um lar onde os princípios e valores transmitidos se encontram desvirtuados. Os apoios, a afectividade, a união, a partilha e os valores são aspectos que devem ser trabalhados com as famílias, de forma a se promover uma sociedade futura mais saudável, segura e próspera.
Entre o público, foram levantadas outras questões que trouxeram um valor acrescido ao debate, nomeadamente a problemática dos horários de trabalho incompatíveis com a vida familiar ou a desresponsabilização dos pais na educação dos filhos. Talvez seja necessário ensinar os pais a serem pais. Esta ideia está inerente à sugestão final deixada por Paula Braga: a criação de um espaço de coaching dirigido à família. Maria Covas também sugeriu a organização de associações de famílias desempregadas que promovam a partilha de experiências e a busca de soluções para a criação de emprego, as quais podem até partir da própria realidade familiar. Alexandra Alexandre salientou a urgência de medidas que promovam a reconciliação entre a vida familiar e a vida profissional, algo também frisado por Maria José Antunes e Ana Vicente, nomeadamente na necessidade de mais creches, em particular se integradas no espaço de trabalho dos pais. Foi assim, com uma conclusão fértil de ideias, que o quinto episódio do Teia D’Ideias conseguiu responder à pergunta colocada logo no mote do debate: estará a Família a ser devidamente apoiada? Provavelmente não. Mas todos nós podemos fazer mais e melhor para inverter essa situação.
A Teia D’Impulsos agradece o apoio da Casa da Isabel e da Delta Cafés na realização do coffee-break. Para o próximo dia 16 de Abril, está agendado o sexto episódio desta série de Teia D’Ideias, subordinado ao tema “Agricultura no Algarve em Ressurgimento”.